segunda-feira, 30 de julho de 2012

MEMÓRIAS LITERARIS

MEMÓRIAS LITERÁRIAS


Queridos, alunos!!!!

Vocês sabem o que são "memórias literárias"?


Memórias literárias são textos que recuperam uma época com base em lembranças pessoais. Quem as produz, em geral, são escritores convidados por editoras para narrar suas memórias de modo literário. Esse texto tenta despertar as emoções do leitor por meio da beleza e da profundidade da linguagem. Quem escreve quer envolver quem lê com as memórias que estão sendo contadas.



Nas memórias literárias, o que é contado não é a realidade exata. A realidade dá base ao que está sendo escrito, mas o texto também traz boa dose de inventividade.

Algumas marcas comuns aos textos de memórias são as seguintes:

  • Expressões em primeira pessoa usadas pelo narrador, como: Eu me lembro"; "Vivi numa época que".
  • Verbos que remetem ao passado, como: "lembrar"; "reviver"; "rever".
  • Palavras utilizadas na época evocada, como: "vitrola"; "flertar"; "baratinha".
  • Expressões que ajudam a localizar o leitor na época narrada, como: "naquele tempo; "em 1942".
  • Participação de outros personagens; de pessoas presentes nas lembranças dos entrevistados.

Texto



Meus tempos de criança
Rostand Paraíso
Pulávamos os muros e ganhávamos os quintais das casas vizinhas, enormes e cheias de fruteiras e de toda a sorte de animais, gatos, cachorros, galinhas, patos, marrecos e outros mais. Chupando mangas, gostosas mangas, mangas-espada, mangas-rosa e manguitos, esses quase sempre os mais saborosos, dividíamos os times e organizávamos as peladas de fundo de quintal que exigiam grande malabarismo de nossa parte, com as frondosas árvores para driblar e grandes irregularidades no terreno para contornar.
Usávamos "bolas de meias", preparadas por nós mesmos com papel de jornal compactado e colocado dentro de uma meia de mulher, mas já começávamos a usar bolas de borrachas e as "bolas-de-pito", que eram bolas de couro, com pito para fora e que tínhamos o cuidado de envergar para dentro, para evitar arranhaduras.
Gostosas, memoráveis tardes que se prolongavam até a noitinha, parando-se apenas quando não havia mais sol e quando não podíamos mais ignorar os gritos que vinham de nossa casa, para tomar banho, mudar de roupa e ir jantar.
As mesmas misteriosas ordens faziam-nos começar a desengavetar nossos times de botão para a temporada que iria se iniciar. Os botões eram polidos e engraxados.
Descobríamos, nos botões das capas e dos jaquetões e, também, nas tampas de remédios, promissores craques. Nossos pais começavam a estranhar, sem encontrar qualquer explicação para fato, o desaparecimento das tampas dos xaropes e dos botões das roupas. Esses craques em potencial, novos valores que surgiam, eram devidamente preparados e passávamos dias a lixá-los e, para lhes dar mais peso e maior aderência à mesa, a enchê-los com parafina derretida. Trabalho que levava às vezes algumas semanas, os novos craques sendo testados exaustivamente até que nos déssemos por satisfeitos e os considerássemos prontos e aprovados para as grandes competições pela frente.
Os botões de chifre, preparados pelos presos da Casa de Detenção, onde íamos comprá-los, começavam, pela sua robustez e pela potência de seus chutes, a ganhar nossa preferência. Não gostávamos, porém, daqueles botões que vinham do Sul, de plástico, todos iguais, diferençando-se uns dos outros apenas pelas "camisas" que traziam coladas sobre si, com as cores dos clubes cariocas. Preferíamos, nós mesmos, pregar as cores do nosso time preferido, no meu caso o Santa Cruz.